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Muito acima da média

Acabo de ler matéria que relata a histórica chegada da delegação do Cosmos à Havana, com Pelé a bordo e tudo o mais, para realizar um jogo contra a seleção cubana como parte dos esforços de reaproximação diplomática e comercial entre norte-americanos e caribenhos. Para quem não se lembra, o Cosmos é um time de futebol que fez sucesso nos anos 70 ao montar verdadeiros esquadrões de super-astros da bola, no intuito de popularizar o futebol (do tipo "soccer") nos Estados Unidos. Por lá andaram craques como Carlos Alberto, Chinaglia, Beckenbauer, Neeskens e, é claro, o maior de todos: Pelé.
Estava também preparando material para uma aula a respeito do comportamento das redes que afetam os nossos processos do dia-a-dia e reencontrei os textos e os vídeos de Strogatz e Watts que comentam os modelos matemáticos associados os diversos tipos de redes e suas respectivas características. Um fato bastante curioso observado em tais arranjos é que redes do tipo "mundos pequenos" parecem funcionar muito bem para diversas situações do nosso cotidiano, mas são totalmente impactadas pela presença de elementos que fogem de qualquer comportamente médio imaginado: os concentradores.
Concentradores são aqueles elementos que, por exemplo, possuem um milhão de seguidores no Facebook, enquanto que valores médios apontam para números na casa de mil amigos cadastrados. São a força e a fraqueza das redes e processos reais que vivenciamos: por causa dos concentradores, conseguimos economizar substancialmente no projeto e na implementação de soluções para, por exemplo, organizar as rotas do tráfego aéreo de um determinado país ou para distribuir a energia elétrica que irá abastecer as residências de uma nação. Se os concentradores permitem que as redes e os processos continuem funcionando por caminhos alternativos mesmo quando vários de seus ramos são desligados, sua falência provoca a queda do sistema e efeitos colaterais de grande impacto.

Pelé é um concentrador dos mais marcantes da história. Quase quarenta anos após sua última despedida dos gramados, continua a ser um dos rostos mais conhecidos do planeta, capaz de interromper uma guerra no Congo para que todos pudessem vê-lo atuar, ou de ser reintegrado a um jogo do qual havia sido expulso na Colômbia - sendo que o juiz responsável por tal heresia é que acabou banido da partida.
Pude perceber vivamente a força de Pelé em minhas viagens por aqui e por ali - como no café com seu nome em uma ruazinha esquecida de Macau ou no sorriso do funcionário japonês da Imigração ao reconhecer-me compatriota do Rei do Futebol. Uma das melhores histórias que demonstra a força do "concentrador Pelé" é contada pelo ator Robert Redford (mais ou menos assim):
- Imaginem só, depois de encerrar a carreira, Pelé passou a ocupar um escritório no prédio da Warner, no centro de Nova Iorque. Como eu também trabalhava ali, costumávamos descer juntos para almoçarmos por perto - e eu sempre ficava impressionado com o carisma dele. No trajeto de ida e volta, era comum as pessoas me reconhecerem - astro norte-americano, famoso por atuar em uma das indústrias mais tipicamente nacionais, o cinema - e pedirem autógrafos. Digamos que minha média diária era fornecer cerca de 15 autógrafos. Pois não é que o danado do Pelé assinava cerca de duas ou três vezes mais? Imagina, um brasileiro praticante de um esporte pouco popular à época nos Estados Unidos! Pelé é o cara!
Difícil negar.
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