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Botões e passarinhos (ou Princípios de Processos)

Se você procurar na Internet irá facilmente encontrar uma história que o escritor e dramaturgo Mário Prata costuma contar de sua aventura em Paris, para cobrir a Copa do Mundo de Futebol de 1998. Correspondente do Estadão à época, Mário tinha como um de seus colegas de redação o genial Chico Buarque, que em seu primeiro texto ("Com os meus botões"), contava de maneira fantástica o contato que teve, já adulto, com o ex-jogador Formiga, um dos destaques de seu time de botão quando garoto. Lá pelas tantas, um encabulado Chico se viu abraçado a Formiga, fazendo um movimento em sua clavícula similar às palhetadas que costumava dar em seus botões.

Mário não engoliu a história, certo de que era uma bela peça de literatura - porém, inventada. E segredou a amigos que se tratava de um "passarinho" de Chico, termo cunhado por Nélson Rodrigues para a situação em que o escritor aumenta um pouco a história contada - por exemplo, incluindo um passarinho engaiolado tentando fugir de um incêndio de um prédio -, a fim de ganhar maior conexão com o leitor.
Ao saber da desconfiança de Mário, Chico ligou para o amigo, falando em tom de quem não gostou do que ouviu:
- Você acha mesmo que eu não estava cutucando a clavícula do Formiga como um garoto faz com seu time de botões?
- Acho, Chico! - apesar do texto ser ótimo, não acredito que você fez isso.
Chico começou a gargalhar do outro lado da linha:
- Cara, eu nunca vi o Formiga na minha vida...
Na teoria moderna de processos há dois princípios que gosto em especial: reconhecimento e inclusão. De maneira sintética, ambos ressaltam a importância do profissional de processos se colocar no lugar dos participantes, reconhecendo como importantes a contribuição e o ponto de vista de cada um e, também, imaginando as necessidades e os impactos que sua ação irá gerar nos demais componentes da cadeia de valor. Estabelecer a linguagem exata é uma arte das mais valiosas em projetos de melhoria de processos - no caso da crônica do Chico Buarque, o leitor certamente estava mais interessado na mensagem transmitida que em verificar a exatidão dos fatos históricos.
Tive um chefe que era especialista em promover a conexão com o público-alvo, gerando mensagens animadoras que garantiam o engajamento das pessoas envolvidas e facilitavam enormemente o alcance dos resultados, dando mesmo a impressão que eles já existiam - ainda que não passassem de boas intenções na maioria das situações.
Para conhecer mais dos princípios de processos, confira 
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