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Nas asas da Embraer

Há cerca de três anos participei de um evento da Marinha Brasileira em que um dos palestrantes era o famoso Ozires Silva, criador da Embraer e pioneiro na indústria de aeronaves genuinamente nacionais. O papo fluiu fácil e gostoso e Ozires conquistou a plateia comentando as diversas aventuras necessárias para convencer às pessoas da viabilidade e da importância estratégica de desenvolvimento do setor aeronáutico no País.
Uma das histórias marcantes que me recordo conta que depois de todo o projeto elaborado e de passar pelas mãos de vários atores que não davam o sinal para que a Embraer ganhasse corpo, Ozires levou a proposta ao gabinete do Ministro da Aeronáutica. Eram tempos do governo militar e o mandatário, cansado de ouvir as ponderações, abriu a janela da sala e ameaçou:
- Fiquem sabendo que atirarei pela janela o próximo que vier me falar de implantar uma empresa brasileira de aeronáutica!

    

















O prognóstico era desanimador. Se o próprio Ministro era contra o projeto, como fazê-lo (literalmente) decolar?
Foi aí que o acaso entrou em cena. O domingo amanhecera nublado e Ozires era o militar de mais alta patente servindo na base aérea de São José dos Campos naquele dia. De repente, recebeu uma mensagem urgente pelo rádio do posto: o avião presidencial não poderia aterrissar no destino previsto por causa do nevoeiro e seria desviado para São José. Caberia a ele, Ozires, "fazer sala" para o Presidente enquanto estivesse em solo.
Depois de uma hora de conversa, o assunto emperrou; foi então que Ozires tirou da gaveta o projeto da Embraer e começou a detalhá-lo para o Presidente - que não parecia demonstrar muito entusiasmo pela ideia, mas não o impediu de continuar a exposição.
Finalmente a autorização para decolagem veio e o chefe dirigiu-se para a aeronave. No último degrau da escada de acesso, inesperadamente ele se virou para trás e comentou:
- Pode tocar o projeto - vamos criar a Embraer!
Essa reveladora história reforça a noção que vários pensadores defendem de que devemos trabalhar pelo resultado que desejamos, porém com o desapego necessário à sua ocorrência (pois não dominamos todas as variáveis). Nas sábias palavras de José Saramago, "não tenhamos pressa, mas não percamos tempo".
Nossos modelos de processos devem, portanto, conter os detalhes necessários para que seus resultados sejam satisfatoriamente alcançados por meio de sincronias que ultrapassam a simples noção de atividades, aproveitando condições que podem ocorrer fortuitamente para as quais, se estivermos suficientemente preparados, nossos esforços serão recompensados.
Dizem que até hoje o Ministro está se mordendo de raiva da coincidência que lhe tirou a autoridade...
Feliz 2015 a todos!!!! Até o próximo post!!!
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